Algo mais sobre as eleições

E assim, lá se vai mais uma cena da farsa eleitoral. A Lei de Ficha foi aprovada no Congresso, na fluência de todas as negociações imorais que são próprias daquela casa, até fosse aprovada e sancionada já com menos de um ano das eleições. Agora, há o entendimento que ela não se aplica para as eleições de 2010. Abrir-se-á um novo período, até as próximas eleições, de mais barganhas e mensalões em que as leis eleitorais podem ser novamente mudadas e não aplicadas. Isso só revela que o problema das eleições não é a elegibilidade dos candidatos – isso foge ao problema principal.

Em primeiro lugar, a “ficha suja” dos candidatos não se revela na existência de processos judidiais nem tampouco de condenações contra os mesmos. A maior sujeira da bandidagem política do país está no compromisso com as classes dominantes, na ligação inseparável com grandes empresas e latifundiários (que são inclusive os grandes financiadores das campanhas milionárias), no servilismo ao interesse imperialista estrangeiro que permite um modelo econômico atrelado na agiotagem financeira praticada por órgãos como o FMI, na transferência das riquezas nacionais para o exterior, no sistema agrícola latifundiário monocultor de exportação que só explora, expropria e empobrece o povo brasileiro transformando o país numa semi-colônia. Mas, para a “Justiça” brasileira, isso não é crime. Logo, todos eles são “ficha limpa”.

Em segundo lugar, não são a pessoa dos candidatos, mas sim o processo eleitoral, que é corrupto, e assim será qualquer processo eleitoral sob a égide da política imperialista das “eleições livres”. Essa política foi arquitetada pelos estrategistas estadunidense na década de 70, e foi responsável pela substituição, nos países subordinados, das ditaduras militares pelas “ditaduras” civis baseadas em “eleições livres” (e corruptas), a partir de uma transição “lenta, pacífica e gradual”, ou seja, mudando-se tudo para que nada fosse mudado – especialmente as relações reais de poder concentrado nos grupos políticos das classes dominantes.

A corrupção, a compra direta ou indireta de votos, são inerentes ao processo eleitoral, não é nenhuma moralização das eleições ou reforma política que irá mudar esse fato. Isso de confirma quando, cada vez mais, a apresentação de programas de governo é substituída pela imagem dos candidatos trabalhada pelos marqueteiros. Não se apresentam propostas, mas sim fotos, dos candidatos. Na prática, o que vale é o interesse restrito e imediato de cada grupo de poder – ou seja, compra de votos.

Também não se pode exigir que haja discussão real de propostas, quando se trata na realidade de um partido único das elites. Não há diferença entre os candidatos, porque há um partido único. Por exemplo, não há diferença entre as propostas de Dilma e Serra, afinal todos são “santos” e “heróis”. Ronaldo Caiado ataca radicalmente os desmandos do sistema financeiro – e o PSTU também. Mas nenhum candidato – destaque-se: nenhum – ataca a ilegitimidade e a corrupção do processo eleitoral, pois todos fazem parte dele e usam as eleições de alguma forma para o proveito de seu grupo político junto às benesses do Estado.

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